A primeira surpresa de quem visita a região de Aveiro é a de tudo estar tão perto, de como em poucos minutos se pode passar dos extensos areais cheios de sol para a frescura dos pinhais e dos vinhedos, das alturas de ar vivificantes. Porque, na verdade, apenas alguns quilómetros separam as zonas do litoral de Ovar, Murtosa, Aveiro, Ílhavo e Vagos das serranias verdejantes de Vale de Cambra e de Águeda, ou das margens do Rio Douro, em Castelo de Paiva, permitindo num dia só, bronzear o corpo numa praia e passar horas agradáveis numa paisagem de verdes e água.
A segunda é dada pela Ria, pelos seus horizontes feitos de muitos tons de azul, recortados, aqui e além, pelas pirâmides brancas do sal, as velas dos moliceiros, os milharais e pastagens. Uma Ria que está ela também próxima das praias de areia fina e que se estende até aos primeiros contrafortes das elevações que começam a subir em direcção à serra. A Ria tem, ainda, uma outra surpresa agradável: o convite permanente aos prazeres da vela, do esqui aquático, do windsurf, do remo. Porque a Ria é água a perder de vista, quilómetros e quilómetros de pista para todos os desportos aquáticos.
As surpresas da região de Aveiro não acabaram. Porque o visitante tem ainda muito para ver, para apreciar, para viver. Gosta de arte, de história? Então deve começar por visitar o Museu de Aveiro, instalado no antigo Convento de Jesus, apreciar o precioso túmulo de Santa Joana Princesa (séc. XVIII), a igreja de Jesus, onde a talha barroca se manifesta com todo o seu esplendor, as colecções de escultura, pintura e paramentaria. Ou, então, percorrer os sonoros corredores do majestoso Mosteiro de Arouca, admirar a sua igreja, o magnífico cadeiral, o museu de arte sacra. Depois visita, em Avanca, a Casa-Museu Egas Moniz, evocadora do cientista que conquistou um Prémio Nobel e o Panteão dos Lemos, na Trofa, jóia da arte renascença em Portugal. E, em Ílhavo, o Museu Marítimo, ligado às lides do mar e da Ria, e o Museu da Fábrica da Vista Alegre, repositório de século e meio de tradição e prestígio na produção artística de cristal e porcelana. Por toda a Região, muitos solares e igrejas são testemunhos de arte, da vida de outros tempos.
Pode, ainda, sentir o pulsar da vida de cidades como Oliveira de Azeméis e São João da Madeira. As suas preferências vão para os vastos horizontes, para as pequenas aldeias de casas antigas e pitorescas? A escolha é ampla e abrange desde as margens alcantiladas do rio Douro, em Castelo de Paiva, dos extensos planaltos da Serra do Arestal, junto a Sever do Vouga, até aos contrafortes do Caramulo, vasta e diversificada região polvilhada de povoações encantadoras, perdidas entre campos verdejantes. E à beira-ria, contrapondo-se à sobriedade da pedra das casas serranas, a exuberância dos palheiros da Costa Nova, listados de branco, azul, verde e vermelho. O perfil elegante do barco moliceiro, reflectindo-se na água espelhada da ria, o colorido dos seus painéis, são imagens que a região de Aveiro evoca e, também, daquelas que ficam para sempre na memória. Mas outros atractivos esperam o turista que visita esta região.
À sombra de conventos foi criada uma doçaria rica e variada, na região serrana a deliciosa vitela, acompanhada pelo vinho verde, à beira-mar variadíssimos pratos de peixe, com particular destaque para as enguias e as caldeiradas, a sul, em Albergaria-a-Velha, Águeda e Oliveira do Bairro, o leitão assado, com a capitosa alegria dos vinhos da Bairrada.
A Região de Aveiro é, sem dúvida, um mundo de férias. Porque nela há muito para ver, para viver. E como o mar, a serra e a Ria estão perto, é sempre fácil responder aos gostos de um momento, variar as ocupações, enriquecer cada dia com experiência diferente. Porque assim se vivem verdadeiras férias.
A natureza da Região de Aveiro
A Região de Aveiro é uma região de grandes contrastes. Da sua geografia diversificada resulta uma simbiose perfeita entre o litoral e a montanha. Esta região, embora ainda apresente influências da região Eurosiberiana, caracteriza-se, do ponto de vista fitoclimático, como predominantemente Mesomediterrânica.
É dominada pela bacia hidrográfica do rio Vouga. Este rio desagua noutro importante acidente geográfico, a Ria de Aveiro. A intrincada rede de afluentes que desaguam no Vouga é responsável pela grande riqueza em água desta região e tem um forte efeito condicionador da agricultura e da paisagem rural.
A planície litoral caracteriza-se por uma costa arenosa homogénea, com um sistema dunar bem desenvolvido e em parte ocupado por matas de pinheiro bravo que datam do início do século XX. O sistema dunar encontra maior expressão e condições de conservação na costa de São Jacinto.
A Ria de Aveiro está intrinsecamente ligada ao mar, dada a sua proximidade geográfica e influência directa que se faz sentir pela entrada de águas marinhas através da barra. Este sistema lagunar tem profundas influências nas populações ribeirinhas, que aprenderam a usar a panóplia de recursos que lhe oferece e, há centenas de anos, que vem actuando, modelizando-o de forma acentuada. São o reflexo desta actuação as salinas, a ocupação das ilhas de areia que eram as Gafanhas, o bocage, em contraste com as ilhas de sapal do delta, ainda hoje pouco ou nada intervencionadas. Alguns destes sistemas altamente modelizados pelo homem são, contudo, repositórios de diversidade biológica.
A transição do meio lagunar com o interior planáltico e montanhoso faz-se através do rio Vouga e de inúmeras linhas de água que drenam na laguna. Estes vales de aluviões constituem zonas de elevada produtividade agrícola, complexidade estrutural e riqueza biológica que, em alguns casos, formam zonas húmidas interiores como as Pateiras de Frossos e de Fermentelos. As areias litorais e aluviões, onde estão instalados os pinhais litorais e a laguna de Aveiro, dão lugar a um meio eminentemente florestal, de relevo mais acentuado, em formações xistosas e graníticas.
Este meio florestal, onde actualmente domina o pinheiro-bravo e nalguns casos o eucalipto, apresenta manchas residuais de carvalho-roble, que outrora cobria toda esta região. Este maciço florestal é intensamente recortado por vales fluviais, em que se pode observar a mudança gradual da agricultura da planície aluvial para uma agricultura em socalcos, o mosaico agrícola.
Nas zonas de maior altitude, como a serra da Freita, encontram-se ainda zonas abertas onde os elementos dominantes são a pedra nua e os matos rasteiros, sendo a pastorícia uma actividade importante. As comunidades associadas a este habitat pobre e hostil não são muito ricas, mas têm, contudo, características muito peculiares e de elevado valor conservacionista.
As características geológicas desta região são reflectidas pelos materiais usados, quer ao nível das habitações, quer das intervenções de apoio à agricultura (muros, sebes,…), sendo elementos evidentes na paisagem rural que acentuam o contraste entre o litoral e o interior
A gastronomia
Rota da Luz, uma região onde a influência litoral desempenha um papel importante na riqueza gastronómica.
O mar, a ria e os rios do interior dão peixes de excelente qualidade que, em receitas transmitidas de geração em geração, ganharam merecida fama.
São bem conhecidas a sopa e caldeirada de enguias, as enguias fritas ou de escabeche, as magníficas caldeiradas de peixe, os sabores únicos das espetadas de mexilhão, da raia de molho pitau e da petinga de alhada, o paladar da caldeirada de peixes do rio e da tradicional lampreia.
Da forte ligação da região de Aveiro à pesca longínqua, uma enorme variedade de receitas de bacalhau, do tradicional bacalhau com arroz de espigos ao mais recente bacalhau com natas.
Para os apreciadores de uma cozinha requintada a apetitosa sopa do mar, a feijoada de marisco e o arroz de marisco são iguarias a não perder.
Do inigualável sabor do leitão à Bairrada, à chanfana ( de borrego ou de cabrito) da vitela ou carneiro à lampantana, à chouriça com grelos, aos rojões ou ao cabrito assado, a gastronomia da Rota da Luz permite-lhe encontrar magníficos pratos capazes de satisfazer o mais exigente dos apreciadores.
Isto sem esquecer a soberba vitela assada e os tenros e suculentos bifes de vitela da zona serrana.
Ao longo dos rios, românticos moinhos de pedra vão moendo a farinha com que se fazem o pão de UI, o pão de Vale de Ílhavo, as padas da Veiga, de Canelas e de Pardilhó, a broa de milho e a triga-milha.
Para melhor saborear a refeição, nada como um bom vinho. Do vinho verde, na zona norte da Rota da Luz, aos famosos vinhos e espumantes da Bairrada. Como digestivos, as magníficas aguardentes velhas e os licores caseiros.
De receitas antigas, muitas delas transmitidas em segredo, é feita a doçaria da Rota da Luz. Nas cozinhas conventuais surgiram os ovos moles de Aveiro e a diversificada doçaria de Arouca (morcelas e castanhas doces, fatias húmidas, barrigas de freira, roscas e charutos de amêndoa, bôlas de S. Bernardo, manjar de língua).
O louro e fofo pão-de-ló de Ovar, da Murtosa ou de Serradelo (Castelo de Paiva), os pastéis de Águeda
os beijinhos e os amores de Sever, as bateiras e as barquinhas do Vouga, os doces brancos, os doces de Serradelo…
Doces de ovos, caladinhos, beijinhos, zamacóis, queijadas de cenoura, folares, rosca, raivas, bolo de 24 horas, papas de carolo, leite creme, melindres, cavacas, fuzis, sequilhos, suspiros, turcos…
Um sem número de doces capazes de seduzir a mais forte das vontades de resistir aos prazeres da boa doçaria.
O património da Região de Aveiro
Na região de Aveiro a Arte e a História andam de mãos dadas. Desde tempos remotos que a presença humana, nesta fértil Região, se fez sentir.
Os monumentos megalíticos mostram o cuidado que os homens de então dedicavam aos seus mortos. As gravuras rupestres dão-nos a dimensão estética e religiosa, o sentido mágico do homem perante o desconhecido e as necessidades da vida quotidiana. Os castros, no alto dos montes, evocam as necessidades defensivas, de abrigo dos animais ferozes ou das tribos inimigas.
Da ocupação romana, lápides, marcos milenários, estradas, povoados ou fornos cerâmicos, dão-nos a conhecer a evolução tecnológica trazida. Túmulos e igrejas românicos, patenteiam a evolução da arquitectura medieval.
O gótico, funcional, sem grandes luxos, a beleza do manuelino, na magnífica cruz de S. Domingos…
A elegância das igrejas maneiristas, as pinturas dos retábulos…
Depois, a exuberância e a riqueza do Barroco, as magníficas talhas douradas, o contraponto do claro/escuro, a beleza dos azulejos policromáticos ou azuis e brancos…
Com os finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, surge a industrialização. O tijolo e o azulejo são profusamente utilizados na arquitectura.
Com a Arte Nova, adquire-se um completo domínio dos materiais, numa rara combinação de profusão de formas, onde a graciosidade das linhas curvas, dos motivos vegetais e da figura feminina estabelece uma feliz simbiose com a produção local de azulejo artístico.
A região de Aveiro é, também, rica em arte e cultura populares. Nada melhor que o colorido das cangas e a beleza dos painéis dos moliceiros, para mostrar o interesse e o cunho pessoal que o homem põe na decoração dos objectos e instrumentos de trabalho de uso quotidiano.
A cultura tem lugar de destaque nos museus da Rota da Luz. Casas-Museus ostentam o nome dos escritores Júlio Dinis e Ferreira de Castro, ou o do Prémio Nobel da Medicina, Egas Moniz, também ele escritor, atestando a sua ligação à região. Outros museus mostram temas tão diversos quanto a arte, a etnografia ou a técnica.
Os Museus
Museu de Aveiro
O Museu de Aveiro ocupa o Mosteiro de Jesus, convento feminino fundado em 1458 como modesta reclusão. A presença entre as religiosas da Princesa D. Joana, filha do Rei D. Afonso V, a partir de 1472, levou ao engrandecimento do mosteiro que, nos três séculos seguintes, sofreu sucessivas reformas e construções.
A igreja de Jesus, com rica talha dourada e azulejos, o túmulo da Princesa, obra prima do barroco, o claustro (sécs. XV/XVI) e o refeitório, de paredes revestidas a azulejo e graciosa tribuna de leitura, são estruturas conventuais integradas no Museu. Importante colecção de arte barroca portuguesa (sécs. XVII/XVIII). Escultura, talha, paramentaria e ourivesaria. Pintura portuguesa dos sécs. XV a XVIII, com destaque para o retrato da Princesa Santa Joana.
Ecomuseu da Troncalhada
Marinha de sal, onde se podem observar os ancestrais métodos de salinicultura da região aveirense. Actividade já conhecida, nesta região, no ano 959, como comprova o testamento da Condessa Mumadona Dias.
O artesanato
A região de Aveiro tem uma grande diversidade geográfica, onde as tradições culturais, etnográficas e artísticas reflectem a relação entre o homem e o ambiente que o rodeia.
Técnicas e motivos decorativos foram transmitidos de geração em geração, dando forma a objectos de uso diário.
O sentido estético dos artesãos deu-lhes vida, imprimindo-lhes um cunho pessoal. É deste saber de experiência feito, que os artesãos da Rota da Luz conseguem criar peças maravilhosas a partir da rudeza dos materiais.
Da pequena barrica de ovos moles ao imponente barco moliceiro, mãos habilidosas transmitem forma, alegria e cor porque nesta região tudo é um hino à vida.
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